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Quando sentires tua carne incendiar-se
e a labareda divina altear-se no ar,
desfralda tua bandeira neste tope,
que logo virão dos quatro pontos cardeais
os conspiradores que precisas:
pois tua língua não pode continuar a que herdaste
nem os teus homens são os que hoje te cercam.
Antes que os tambores ensurdeçam teus ouvidos
e teu passo se candencie num galope constante,
vê que a dor do mundo deseja redimir-se em teu canto.
É certo que te esmagarão como se esmaga uma asa.
Mas as penas que espalhares no chão
podem voar ao vento
e baixar com sua sombra mínima
sobre qualquer ovo perdido dentro dos ninhos abandonados.
Entre a noite e o mar visitarás de novo
os litorais desertos, e semearás teu pólen.
Hão de cair sobre ele as chuvas que lavam as tempestades,
e se os homens não quiserem ouvir-te,
ressurgirás para as abelhas ou para as solidões
em que Deus ouvirá as palavras do Início.
Jorge de Lima
Jorge de Lima
Um comentário:
"É certo que te esmagarão como se esmaga uma asa.
Mas as penas que espalhares no chão
podem voar ao vento
e baixar com sua sombra mínima
sobre qualquer ovo perdido dentro dos ninhos abandonados."
Divino isso.
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